Educando para a Igualdade: Como Estamos Preparando as Próximas Gerações

Educando para a Igualdade: Como Estamos Preparando as Próximas Gerações

Fiquei pensando o que eu poderia escrever sobre 08 de março – uma data marcada pela força, engajamento político e reivindicações históricas das mulheres.

O Dia Internacional da Mulher é um lembrete poderoso de que ainda há um longo caminho para construirmos uma sociedade mais empática, justa e igualitária. Mais do que uma data, é um chamado à ação: como cada um de nós pode contribuir, todos os dias, para transformar essa visão em uma realidade próspera e inclusiva?

Como mulher busco olhar para minha própria existência e honrar a história das que vieram antes de mim. Minha mãe foi expulsa de casa pelo meu avô ao contar sobre sua gravidez. Foi constantemente julgada por se “envolver” com um homem 6 anos mais jovem e “engravidar” – como se ela fizesse isso sozinha. Foi acolhida por uma prima que a recebeu em seu lar de braços abertos e a quem serei eternamente grata por permitir meus primeiros meses nesta encarnação.

Morei com meus avós maternos até os 3 anos – que se arrependeram da expulsão depois - quando meus pais decidiram viver juntos. Meu pai sugeriu que minha mãe não trabalhasse para focar em mim, mas, do seu jeito, ela “arregaçou as mangas”, vendendo roupas e cosméticos para garantir momentos especiais em cada aniversário. Tudo de forma simples mas genuinamente rica de amor. Olhando em retrospecto, ela é uma das minhas referências da potência feminina empreendedora.

Aos 6 anos, celebrei o casamento civil dos meus pais. Na igreja não podia, né? Se é que me entendem. Um privilégio para mim, já que poucos puderam testemunhar esse momento.

Crescer é muito interessante, ainda mais quando se é menina. Ouvia muito “se não sabe usar saia, não usa”, “senta direito” e ao dividir em transporte público o banco de um ônibus ou metrô com um homem ao lado, percebe-se o quanto essa preocupação não faz parte do cotidiano dos meninos.

Na adolescência então: “não usa esse tipo de roupa que é vulgar”, “não conversa tanto com os meninos que você ficará mal falada”, “você tá muito magra, não tá doente, não?”, “é tão nova para ter celulite”, “cadê o namorado?”, “pratica esportes e tá ficando com o corpo masculinizado” e o povo não se decide, se julga suas escolhas, seu corpo ou sexualidade.

Quem me conhece sabe que comecei a trabalhar cedo para ajudar em casa. Fiz panfletagem em semáforos no Rio em busca de autonomia e, assim, consegui meu primeiro emprego CLT. Mas uma abordagem me marcou: um homem, pelo vidro do carro, me deu um cartão de uma agência e disse que eu era “bonita” para estar ali. Existe aparência certa para sobreviver? Confesso que tive medo de ligar na agência. Na época ainda não conseguia dar nome aos bois, mas hoje entendo o que é o patriarcado como base que sustenta o sexismo e que por sua vez se desdobra no machismo e na misoginia.

E daí vem a vida adulta, se você trabalha demais “vai morrer sozinha”, se está com alguém bacana que compartilha os valores de vida – “quando vai casar?”. Eu escolhi não mudar meu nome com o casamento, não acho de verdade que isso faça qualquer diferença para o amor que se constrói no dia a dia e além de toda burocracia com os documentos. Mas essa simples escolha às vezes também traz questionamentos.

Ter filhos não é diferente. A decisão, muitas vezes silenciosa, carrega consequências – ou a de não ter: “Quem cuidará de você na velhice?”. O impacto é amplo. Há o luto das tentativas, a espera, os julgamentos no parto: cesárea te faz “menos mãe”, parto normal te torna uma “guerreira de bexiga arriada”. No trabalho nem se fala, na maioria das vezes, escolhem por você. Atrasa ou nunca chega aquela promoção. Ou você vira estatística: desligamento em até dois anos após a licença-maternidade.

Com a chegada dos filhos, decidimos homenagear as mulheres da família, escolhendo para eles sobrenomes das avós – curtos, mas carregados de história, força e vulnerabilidade feminina. Amamos os avôs, mas optamos por elas que foram o transporte para a materialização da vida.

Essa carga mental potencializada pela pressão estética, distribuição desigual de tarefas e diferenças no tratamento, seja no âmbito profissional ou social, dificilmente é vivenciada pelos homens.

Este ano completo 45, minha filha, 4. São 41 anos entre gerações, e embora há avanços, a estrutura ainda segue impregnada em todos os lugares. Faço minha parte para que ela seja vocal contra a discriminação por aparência, idade, raça, cultura, sexualidade, gênero e classe. Está nas Olimpíadas, no Oscar, no futebol, no carnaval – basta ligar a TV ou pesquisar na internet. A conscientização vem, muitas vezes, de discursos potentes de mulheres. E não menos importante, o meu filho, para que ele não reproduza padrões que perduram e ajude a construir um futuro com liberdade e igualdade para todos. Afinal, quero que ele também assuma essa causa já que a igualdade de gênero lhe permitirá viver sua versão mais completa de si mesmo.